Sempre deixei clara minha admiração pelo grande Wlamir Marques, a quem considero o maior jogador de basquetebol deste país de todos os tempos. A camisa 5 do Wlamir foi minha inspiração quando garoto e a usava nas equipes que jogava.
Mas na Escola que eu representava em São Caetano (Instituto Estadual de Educação Coronel Bonifácio de Carvalho) e que tinha um timaço de basquetebol, a “5” já tinha dono e eu, novato, tive que escolher outra. E escolhi a 11. E não foi por acaso. Foi por causa de um jogador que atuava no Sírio (grande rival do meu Corinthians) e que eu admirava pela elegância, técnica e inteligência.
Esse jogador era o Menon. Dono de um arremesso fantástico, Menon (apesar de “inimigo”) enchia meus olhos e me fazia querer ser como ele. E é por isso que trago um pouco da história desse fantástico jogador para que os mais jovens a conheçam e para que os mais “experientes” relembrem um pouco de sua trajetória.
Sobre a carreira, ídolos e clubes:
Iniciei jogando bolinhas de papel num cesto improvisado. Um balde pequeno, sem o fundo, cuja forma cônica se assemelhava a uma cesta. Estávamos em 1959 e escutava pelo rádio o campeonato mundial realizado no Chile. Após cada partida me dirigia ao quintal para fantasiar que estava jogando com Amaury, meu ídolo, Wlamir, outro monstro, Edson, Waldemar e Algodão, o time titular. Iniciei no juvenil do Palmeiras em 1960 com idade de jogar no infantil. Porém, menti a idade para mais e assim jogar no juvenil. Em 1963 me transferi para o Sírio, onde encerrei minha carreira esportiva em1974
Clubes que defendeu, seleção brasileira, títulos e competições
Em toda minha carreira defendi somente dois clubes: Palmeiras e Sírio.
Pela seleção brasileira participei dos Campeonatos Mundiais de 1963, Rio de Janeiro, medalha de ouro; 1967,Uruguai, medalha de bronze, cestinha da equipe brasileira e 1970, Yugoslávia, medalha de prata, cestinha da equipe brasileira.
Nota: Menon participou de 22 jogos e marcou 331 pts – média de 15,0 pts
Joguei em três Pan Americanos: 1963. São Paulo, medalha de prata; 1967, Winnipeg, 7ª colocação e 1971,Cali, medalha de ouro.
Nota: Menon participou de 11 jogos e marcou 122 pts – média de 11,1 pts
Nos Jogos Olímpicos estive em 1968, México, 4ª colocação e em 1972, Alemanha, 7ª colocação. Em 1964, por ocasião da olimpíada realizada no Japão, solicitei dispensa da convocação para estudar. Objetivo, o vestibular para medicina.
Minha maior glória foi ter sido o porta bandeira do Brasil no desfile de abertura dos Jogos Olímpicos de 1972, em Munique.
Nota: Menon participou de 17 jogos e marcou 214 pts – média de 12,6 pts
Alem desses títulos representando nosso país, conquistei alguns no âmbito nacional: torneio preparatório, metropolitano, estadual e brasileiro, representando os clubes que joguei.
Campeão Brasileiro interseleções em 1962 (Franca) e 1964 (Pernambuco); Campeão Brasileiro Universitário 1969; Melhor Cestobolista do Ano (1967) e Melhor Cestobolista Universitário (1969).
Equipes marcantes que defendeu e que enfrentou
Não conseguiria indicar uma única equipe marcante que joguei. Todas foram muito fortes. Talvez a de 1963 no Mundial do Rio de Janeiro.
Foram várias as equipe que enfrentei consideradas extraordinárias. Entretanto, uma delas está gravada com detalhes: a URSS de 1970, porque foi a maior demonstração de garra que me recordo e com vitória brasileira. Vale acrescentar que, ao memorizar essa partida, me envolvi de garra semelhante, para alcançar a recuperação física mais rápida, decorrente de uma patologia neurológica a que fui acometido.
Falando dos rivais e dos jogadores de sua época que mais impressionaram
No nosso país e, especialmente em São Paulo, o Corinthians, Palmeiras e a equipe da cidade de Franca. Em competições pelo selecionado brasileiro, a URSS, Yugoslávia e EEUU.
Aprendi muito observando vários jogadores que, alem do Amaury, não poderia enumerá-los pela quantidade. Entretanto, quando ainda iniciante, queria ter: o arremesso de gancho do Edson, o “jumping” do Jatyr, a inteligência do Amaury, a velocidade do Mosquito, a versatilidade do Wlamir e o malabarismo do Rosa Branca. Não queria nada mais , hein?
A contribuição dos técnicos
Em minha carreira tive vários técnicos: os fundamentos básicos do basquete foram ensinados pelo Túlio Di Grado, no juvenil do Palmeiras. Alem desse aprendizado, recebi orientações de: Mario Amâncio Duarte, Moacir Daiuto, Angel Crespo e Pedro Genevicius (Pedroca),no Palmeiras e no Sírio. Togo Renan Soares (Kanela), Renato Brito Cunha e Edson Bispo dos Santos, na seleção brasileira.
Os atletas internacionais que mais marcaram
Também foram vários. Por isso é difícil citá-los. Entretanto, Spencer Heywood e Jo Jo White dos EEUU; Cosic, Siminovic e Skanci da Yugoslávia; Paulauskas, Volnov e Sergei Belov da URSS e Shin Don Pa da Coréia do Sul. Cito estes atletas, uma vez que, tive de enfrentá-los representando nossas cores.
Sobre a conquista do Mundial de 1963, o vice mundial em 1970 e as participações em Jogo Olímpicos (68 e 72).
Em 1963 era o mais novo dos integrantes e, consequentemente, tive a oportunidade de aprender muito, mesmo tendo ficado no banco como torcedor privilegiado. Foi momento de muita emoção estar naquele grupo e me tornar campeão mundial.
Em 1970, titular desde 67, comandava a equipe, pois era o capitão. Essa deferência se deu pelo fato de falar um pouco da língua inglesa e assim poderia me comunicar melhor com os árbitros. O vice-campeonato teve sabor especial. Saímos do Brasil, completamente desacreditados. A equipe não estava bem. Treinamos pouco e tivemos que enfrentar muitas dificuldades políticas. Vivíamos num regime ditatorial e quase nossa participação não teria acontecido. Não fosse a interferência do Ministro Jarbas Passarinho, conseguindo a liberação da verba necessária para que pudéssemos viajar. Portanto, a emoção de trazer a medalha de prata foi altamente significativa.
Nos jogos olímpicos de 68 alcançamos o quarto posto e sem considerar o decantado chororô, a arbitragem facciosa de Mario Oppenheim, foi determinante para a derrota contra a URSS. Vale acrescentar, que esse juiz foi o mesmo que nos prejudicou em 67,contra a mesma URSS. No mínimo seríamos medalha de prata.
Em 72, fui envolvido de uma ambiguidade de sentimentos: a alegria de ter sido indicado para porta bandeira e depois de alguns dias, a tristeza pelo atentado terrorista.
Nos jogos, não nos apresentamos bem. A derrota contra os cubanos nos eliminou de estar entre os finalistas. Ficamos em sétimo lugar.
Comparação entre o basquetebol que era jogado naquela época e o praticado atualmente
No passado o basquete refletia o esporte coletivo. À medida que o individualismo passou a ser privilegiado, o basquete perdeu o “romantismo” que existia. Atualmente, estamos copiando muito a característica da NBA. Apenas que na América a quantidade de atletas fora de série é gigantesca
A contribuição do basquetebol e do esporte no geral na sua vida pessoal e profissional
O esporte coletivo ensina ou aprimora muita coisa. Trabalho em equipe, certamente é fator de sucesso, tanto no esporte como nas empresas. Disciplina, concentração, presença de espírito ou raciocínio rápido, respeito aos colegas, adversários, dirigentes juízes, mesários, etc.. e determinação e.
Você era um especialista em arremessos e tinha um estilo muito bonito nesse fundamento. Quais jogadores que você citaria nesse fundamento como os melhores?
Difícil citar alguns atletas nesse fundamento, pela grande quantidade de especialistas. Entretanto, lembro alguns brasileiros que se destacaram: Amaury, Wlamir, Waldemar, Jatyr, Radvilas, Marcel, Oscar e Marcelinho Machado.
A influência da NBA no basquetebol atual
Quero dizer inicialmente que acompanho muito pouco o basquete. A falta de tempo disponível para assistir a TV e os horários em que os jogos da NBA são transmitidos, são fatores que me impedem de visualizá-los. Entretanto, arrisco algum comentário:
O basquete é um esporte coletivo e portanto, não pode haver individualismos como tenho escutado isso a respeito.
O Brasil ficou fora de 4 Olimpíadas e agora volta à cena. Por quê você acha que ficamos tanto tempo fora dos Jogos e tanto tempo sem obter resultados internacionais expressivos. O que se pode esperar do nosso time?
Inicio pelo fim. Estou entusiasmado com a equipe atual. Assisti a dois jogos do Pré Olímpico e percebi evolução com o novo técnico. Portanto, podemos esperar grandes apresentações. Ficamos fora de três edições olímpicas porque houve o que chamamos de entre safra. Nesse período ficou marcante o interesse individual num esporte coletivo.
Qual sua atividade atual? Ainda curte o basquetebol? Vai a jogos ou vê pela TV?
Sou médico e ainda pratico a profissão. Evidentemente pelos problemas de saúde que tive que enfrentar fui obrigado a reduzir a jornada de trabalho. Não vou aos jogos e raramente os assisto pela TV.
Da geração atual há algum jogador que chame sua atenção?
São muito bons jogadores, mas, para mim, Marcelinho Huertas é um fora de série.
Mensagem para os jovens que gostam do basquetebol e lutam para ser jogadores.
Acredito ser muito ousado em oferecer mensagens, porém, o que me vem à mente é o seguinte: muita determinação, respeito aos colegas ,adversários e a todos que estão envolvidos no contexto. Sem ser cabotino, posso me considerar um exemplo de que é possível associar esporte competitivo com outra atividade profissional.

Menon, em seu primeiro Mundial (1963, Rio de Janeiro) ao lado de colegas do E.C.Sírio – Sucar e Victor